História da rainha Perséfone, esposa de Hades

10-06-2020

Há muiro , muito tempo, antes de antes de antigamente, três deuses irmãos , filhos de Cronos, deus do Tempo, e de Reia, deusa da Terra, dividiram entre si o poder de reinar sobre todas as coisas. Zeus, ficou senhor dos céus e do trovão; Poseidon, reinaria nos mares e sobre as tempestades e Hades seria o deus do Mundo Subterrâneo, também chamado Tártaro, que é o lugar onde os depois-de-mortos vivem para sempre. Zeus, que embora fosse mais o novo dos irmãos era também o mais sensato e inteligente, ficou também rei dos deuses.

E assim, os céus e os mares, o trovão e as tempestades, Terra  e o Tártaro  estavam equilibrados, pois o poder estava repartido e nenhum deus era senhor de todas as coisas e, embra fossem muito poderosos, nunca podiam tudo sozinhos. Para quem não está bem a par de como eram as coisas no tempo de antes de antes de antigamente,  pode parecer que Hades tenha ficado desfavorecido na partilha dos poderes, por ter ficado com o Tártaro. Mas, na verdade, não era nada assim.

Por ser senhor do Mundo Subterrâneo, Hades era dono de todas as riquezas que estavam dentro da Terra. Era dono de todo o ouro e de toda a prata, de todo o cobre e de todo o estanho, de todos os diamantes e de todos os rubis, de todas as safiras e de todas as esmeraldas que ainda não tinham sido extraídos da Terra pelos homens. E, por isso, Hades era muito, muito rico. Além de possuir tantas riquezas, Hades tinha o poder de manter o equilíbrio entre a Terra dos Vivos o Tártaro dos Mortos. Já imaginaram o que seria se, ás tantas, Vivos e Mortos andassem todos misturados?

No Mundo Subterrâneo estava sempre escuro e, às vezes, Hades sentia-se triste por isso. Ele também gostava de ver o Sol e as cores vivas de todas as coisas. Hades gostava do azul do céu e do verde das árvores, gostava do encarnado das papoilas e do dourado das searas de trigo, gostava do violeta da alfazema e do amarelo dos girassóis. Gostava de olhar para os pomares carregados de frutos de muitas cores e de ver os bandos de pássaros voando. Mas cor preferida de Hades era o encarnado, que é a cor do sangue,  da vida e, dizem, a cor do amor. Então, de vez em quando, muito de vez em quando porque tinha que guardar o Tártaro, Hades vinha à Terra.Punha a sua carapuça de pele de lobo para que o seu rosto se tornasse invisivel - porque ninguém devia saber que o Senhor dos Mortos estava entre os Vivos - e saía das profundezas da Terra no seu carro puxado por dois cavalos negros.

Hades vivia sózinho. Quem é que quereria passar a vida no Mundo Subterrâneo, ainda que fosse ao lado de um deus muito rico? E também por isso, ele sentia-se cada vez mais triste. Hades via Zeus casado com Hera, Poseidon que preparava o casamento com Anfitriti e o seu coração transbordava de tristeza. Mas um dia, Hades apaixonou-se. Numa das vezes em que veio à Terra, com o rosto invisivel debaixo da sua carapuça de pele de lobo, Hades viu, de longe, a jovem deusa Core, que passeava num campo de papoilas. Core era muito jovem e bela. Tinha a pela muito clara e suave como seda , os olhos claros e líquidos, o cabelo comprido e dourado da cor do trigo antes de ser colhido e a boca muito vermelha e redonda parecendo uma papoila. Andava como se deslizasse, para lá e para cá no campo de papoilas encarnadas. E mexia os braços e a cabeça como se estivesse dançando com a brisa da manhã.

Core era filha de Deméter, deusa das Colheitas. Costumava acompanhar sempre a mãe na sua tarefa de vigiar as tarefas agrícolas dos humanos, para que nunca lhes faltasse alimento. Mas, muitas vezes escapava-se da companhia da mãe para ir correr pelos prados e pelos campos de flores.Hades, que vivia entre o escuro e as sombras  do Mundo Subterrâneo, parecia que estava a ver algo de outro mundo. E, na verdade estava,  já que o seu mundo era o Tártaro e, naquele momento, ele estava na Terra. Então, Hades decidiu imediatamente que queria casar com Core e foi pedir permissão a Zeus.

Mas Zeus - que acima de tudo procurava evitar problemas - sabendo que Deméter nunca lhe perdoaria se enviasse a sua jovem filha para o Mundo Subterrâneos, mas também não querendo desagradar ao seu irmão, disse que não dava o seu consentimento, mas também não se oporia ao casamento. Hades ficou desiludido e e sentiu a raiva a crescer dentro do seu coração como se fosse uma planta má. Ele queria um casamento com uma grande festa e muitos presentes, como era costume entre os deuses. Mas isso só seria possível, se o rei dos deuses estivesse de acordo. Porque é que não poderia ter isso?  Até Tétis, que era uma ninfa e não uma deusa, e que casara com um homem e não com um deus, tivera uma festa na qual tinham estado todos os deuses! Então a planta má que crescia no seu coração, fez nascer uma ideia muito má na sua cabeça. E decidiu raptar Core! Ela seria sua, quer Deméter gostasse ou não, quer o rei dos deuses aprovasse ou não!

Hades pôs a sua carapuça de pele de lobo, saltou para o seu carro puxado por dois cavalos negros e saiu do Mundo Subterrâneo direito ao campo onde tinha visto Core pela primeira. Lá estava ela, colhendo papoilas. E era muito linda. Hades ficou por um momento a contemplar a sua deusa, com a pele clara, o cabelo como ouro brilhando ao sol e a boca muito encarnada. Depois, fez avançar os cavalos a galope e foi direito a ela, agarrou-a pela cintura, pô-la dentro do carro e seguiu veloz de regresso ao Tártaro. Core gritou, gritou muito alto, mas não apareceu ninguém para a salvar.

Entretanto, Deméter, que estava a zelar pela ceifa dos homens, achou estranho que Core estivesse tão demorada. Ela nunca se afastava por muito tempo! Sentia o seu coração de mãe apertado e soube, antes de saber o que quer que fosse, que algo de mau tinha acontecido à sua querida filha. Então, abandonou tudo e foi à procura de Core. Já tinha andado um bom bocado quando encontrou Hecate, a deusa dos Caminhos, que lhe disse, "A tua filha foi raptada, Deméter. Eu não vi quem foi, mas ouvi os seus gritos". Deméter sentiu que enlouquecia, mas por maior que fosse a sua dor, era preciso continuar à procura de Core. Deméter andou durante nove dias e nove noites, sem comer, sem beber e sem dormir. Andou por todos os lugares que conhecia e por outros tantos que desconhecia.  O seu coração era como um vaso a transdordar de dor.

Durante esses dias, porque Deméter deixara de estar ao seu lado, os humanos não conseguiram tirar nada da Terra. Sem que ninguém soubesse explicar porquê, o trigo e o centeio prontos a serem ceifados apareciam com as hastes partidas, os frutos mirravam nas árvores, a erva secava nos prados e  as flores murchavam nos campos. Há nove dias que o Sol não brilhava,  oculto por por uma muralha de nuvens cor de chumbo. Na Terra, tudo era escuro e triste. Os homens estavam muito angustiados, pois se não pudessem colher o trigo nem o centeio nem os frutos, não teriam alimento. Sem erva, as ovelhas, as vacas, as cabras e os cavalos não teriam que comer- Sem flores, não haveria alegria.

Ao décimo dia, Deméter chegou à cidade de Elêusis, onde foi acolhida pelo rei Celeus e pela rainha Metaneira. Foi aí que o principe Triptolemus lhe contou que, dez dias antes, os seus irmãos tinham assistido a um estranho acontecimento: quando andavam a pastar os rebanhos reais, de repente viram a Terra abri-se e entrar para dentro dela, a toda a velocidade, um carro puxado por dois cavalos negros. O rosto do condutor estava invisivel, mas eles tinham reparado que ele segurava com força com o seu braço direito uma jovem muito bela. Deméter percebeu imediatamente o que se tinha passado!

Então, foi ter com Hecate e juntas foram falar com Hélio, o deu do Sol, que via todas as coisas sobre a Terra. Hélio ainda tentou dizer que não sabia de nada, mas, temendo a ira de Deméter, porque não há ira maior que a que brota de um coração de mãe ferido, acabou por confessar que sim, era verdade. Hades tinha raptado Core! Então Deméter, louca de desgosto, decidiu que não voltaria mais ao Olimpo, que é onde vivem os deuses, e continuaria na Terra. E continuou a andar percorrendo muitos lugares. E na Terra tudo continuava escuro, pois Deméter não deixava que os cereais germinassem na terra, as árvores dessem fruto nem a erva crescesse nos prados. Já quase não havia comida alguma, nem para as pessoas nem para os animais. Foi então que Zeus decidiu que tinha que intervir, ou o Mundo estaria perdido.

Enviou à Terra Iris, a deusa do Arco-Íris, que era a mensageira entre o Olimpo e a Terra. Mas Deméter nem sequer a quis ouvir. Então Zeus mandou uma delegação de deuses do Olimpo com presentes para acalmarem a ira de Deméter. Mas esta não os recebeu, pois a ira de uma mãe não se acalma com presentes. Tudo na Terra continuava escuro e murcho. E os homens e os animais temiam a fome. Zeus chamou então Hermes, o mensageiro dos deuses, e mandou-lhe que fosse ter com Hades e dissesse, "Tens que devolver jovem Core aos deuses, senão tudo na Terra morrerá" e  que fosse ter com Deméter e dissesse "Core voltará para ti, desde que ainda não tenha provado a comida do Mundo Subterrâneo."

Hades fizera de Core a rainha do Tártaro e tinha-lhe dado um outro nome, um nome de rainha, para assinalar o começo da sua nova vida - Perséfone. Mas, apesar de todo o amor, de todas as atenções, de toda riqueza e de todo o poder de Hades, Perséfone não conseguia amá-lo. Como poderia amar alguém que a tomara à força, ainda que esse alguém fosse um deus muito rico? E tinha muita saudade de sua mãe, das searas douradas, dos prados verdes e dos campos de papoilas encarnadas. Todos os habitantes do Mundo das Sombras tinham vindo prestar homenagem à sua lindissíma rainha, todos se tinham curvado diante dela e admirado a sua beleza.  Todos, menos um, Ascalafo, um dos jardineiros de Hades, que era tão feio que não conseguia suportar a beleza e, por isso, afastava-se sempre das coisas belas.

Quando ouviu a mensagem de Hermes, Hades foi ter com a sua rainha e disse-lhe, "Minha querida Perséfone, minha amada, vejo que não és feliz aqui. Vou deixar-te ir embora para a tua mãe e para os teus". Perséfone ficou muito feliz! Voltaria para a terra e voltaria a ver a sua mãe Deméter! E correria  novamente pelos prados e pelos campos de flores! Hades mandou trazer o seu carro puxado por dois cavalos negros, pôs a carapuça de pele de lobo para não ser visto e ajudou Perséfone a subir, mas, quando já estavam mesmo de saída, apareceu à frente deles Ascalafo. Segurou as rédeas dos cavalos e disse a Hades, "Não a podes deixar partir, Senhor. Ela provou da nossa comida! Eu via-a trincar uma romã do teu pomar!" Perséfone não disse nada, porque Ascalafo falava verdade. Apenas começou a chorar em silêncio.

Hades estava com o coração partido, pois a última coisa que ele queria era ver a sua rainha infeliz. Antes perdê-la para sempre, que sabê-la infeliz. Levou Perséfone até Elêusis, para junto de Deméter, que ficou muito feliz por voltar a ver a sua Core. Mas a felicidade logo se transformou em ira, quando soube que ela teria que voltar , já que provara a comida do Tártaro .E outra vez jurou que nada mais cresceria sobre a Terra, que não haveria mais colheitas de coisa alguma.

Zeus, que lá de longe, do Olimpo, estava seguindo toda a cena, foi então ter com Reia, sua mãe e de Hades, e pediu-lhe que intercedesse, pois ele Zeus já não sabia o que fazer para resolver aquela contenda. Só uma mãe poderia entender o coração de outra mãe. Só uma mãe poderia  acalmar a ira de outra mãe. Todas as partes sabiam que teriam que aceder em algum ponto.Depois de muito discutirem, de muitos gritos e de muitos choros, finalmente concordaram que Core viveria nove meses em cada ano junto com a sua mãe, Deméter, e viveria como rainha Perséfone, com o seu marido Hades no Mundo Subterrâneo durante os outros três meses. E assim deveria ser para todo o sempre.

E é por isso que, todos os anos, existe Inverno na Terra, em que tudo é escuro, os dias são pequenos e os campos ficam adormecidos, sem que nada cresça neles. É sinal que a Rainha Perséfone está de novo no Mundo Subterrâneo, ao lado seu esposo Hades. E todos os anos, também, a Primavera nos lembra que Core repressou à Terra para ajudar Deméter a zelar pelas Colheitas, para que nunca falte o alimento nem aos humanos nem aos animais.



ACTIVIDADES:

1) Procura no dicionário o significado das palavras que não conheças. Podes pedir ajuda aos teus pais ou avós.

2) Faz um desenho alusivo a esta história, a partir da parte que gostaste mais.

3) Modela em plasticina as principais figuras desta história.

4) Procura num mapa a cidade de Elêusis. Podes pedir ajuda aos teus pais ou avós.


Não esqueças! Manda foto dos teus rabalhos para publicarmos aqui.


ATLAS do SABER - Felicidade de Aprender
Todos os direitos reservados 2020
Desenvolvido por Webnode
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora